O Direito do Trabalho está em luto. A terceira semana de abril de 2014 nos cobrou um preço alto, quase insuportável. São dias tristes para o Direito do Trabalho, mas também dias de gratidão. Tristeza pelo que o juslaboralismo perde, tornando-se algo mais pobre, nas suas dimensões humana e científica. Mas há também gratidão, pela riqueza do convívio e do pensamento imorredouro, que jamais se perderão.
Este abril nos levou os espetaculares seres humanos HÉCTOR-HUGO BARBAGELATA e ALICE MONTEIRO DE BARROS, duas grandes estrelas que sempre iluminarão os passos de todos aqueles que semeiam e lutam por um Direito do Trabalho libertário, justo e transformador.
A morte remete sempre a questionamentos sobre o que vem depois. Para muitos essas são uma indagações nunca respondidas. Contudo, para pessoas como Héctor e Alice, a resposta é certa. Eles foram imortalizados nas suas obras, transcenderão por todo o sempre como outros grandes que os antecederam.
HÉCTOR-HUGO BARBAGELATA, catedrático de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da Universidad de la República (Uruguai), deixou-nos em 13 de abril. Advogado e economista, soube reconhecer, como poucos, a convergência inevitável entre a integridade transcendente da pessoa humana e a proteção social do trabalhador. Sua visão humanista imortalizou-se em obras como “El particularismo del Derecho del trabajo y los derechos humanos laborales” ou o “Curso sobre la evolución del pensamento juslaboralista”.
Ao mais, para além do dever-ser, BARBAGELATA aventurou-se pelos ares tempestuosos das artes. E ali também foi grandioso. São de sua concepção o Teatro Universitario del Uruguay e o vanguardeiro Teatro Uno. Dirigiu a Escuela Municipal de Arte Dramático de Montevideo e o Servicio Oficial de Difusión, Radiotelevisión y Espetáculos do Uruguai. Esteve entre os gigantes da dramaturgia uruguaia.
Da Sorbonne a “la República”, foi admirado, até os últimos dias, pela sua lucidez visionária. Nas contradições dos outros, soube encontrar todas as coerências. Une-se, enfim, à constelação sul-marinha em que hoje cintilam, entre outros, Plá Rodriguez e Ermida Uriarte.
O que dizer da grande jurista e professora ALICE MONTEIRO DE BARROS? Pela mão de Alice, a aventura do Direito do Trabalho sempre foi mais fascinante. Sua vida e sua obra são o mesmo lado de uma fita de Möbius, que se contorce topologicamente, como que a insistir que justiça e direito não são dicotomias.
Alice viveu o Direito do Trabalho como uma imanência, da academia e da magistratura; na Universidade Federal de Minas Gerais e no Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região. O rigor científico e a sensibilidade prática se entrecruzavam, em ricochete, seja em seu clássico ‘Curso‘, seja no tradicional ‘Contratos e Regulações Especiais de Trabalho‘, seja como dedicada docente, seja no seu quefazer diário de juíza laboriosa, precisa, justa.
Alice, professora, pesquisadora, autora, doutrinadora, magistrada, com entusiasmo à flor da pele pela sua disciplina, despertou gerações de admiradores e um sem-número de seguidores no mundo do trabalho. A meio mastro os direitos sociais.
O Instituto de Pesquisas e Estudos Avançados da Magistratura e do Ministério Público do Trabalho – IPEATRA registra, com essas breves palavras, sua intensa dor pela perda, bem como o compromisso de todos seus associados em não se desviar das pegadas deixadas por esses dois grandes expoentes do direito social.
PAULO DOUGLAS ALMEIDA DE MORAES
Presidente
GUILHERME GUIMARÃES FELICIANO
Vice-Presidente