Reuniram-se no Brasil, esta semana, para ratificar sua aliança: Eduardo Bolsonaro, filho do presidente brasileiro; o argentino Javier Milei e o chileno Kast e se apresentam, escancaradamente, como “a barreira de contenção ao socialismo” na América Latina.
Daniel Gatti
O cenário do encontro foi a cidade de São Paulo, onde ocorreu a Conferência da Ação Política Conservadora (CAPC), arremedo sul-americano do foro organizado na América do Norte desde 1973, a União Conservadora Estadunidense e os Jovens Estadunidenses pela Liberdade.
O encontro brasileiro foi realizado pelo Instituto Conservador-Liberal, dirigido por Eduardo Bolsonaro.
Milei, líder da ascendente A Liberdade Avança, é o único do trio que define expressamente como “liberal”, esse curioso guarda-chuva identitário importado de países anglo-saxões debaixo do qual se agrupam muitos dos defensores do neoliberalismo. Seu grupo disputa com Juntos pela Mudança a primazia da direita argentina.
Mas os três se reconhecem dentro desse perfil caracterizado também por seus pontos de contato com a ultradireita mais violenta: Kast, filho de um oficial nazi alemão, dirige o Partido Republicano, que não dissimula sua filiação pinochetista; Milei está rodeado de defensores da última ditadura argentina; e Bolsonaro, o que dizer do conflituoso deputado Bolsonaro, fiel entre os fiéis do seu pai, o ex-sargento Jair Bolsonaro.
“Não me importa como me definam: se como ‘liberal’, se como “liberal-conservador’, se como ultradireitista. Sou um amante da liberdade e inimigo do comunismo”, disse a pouco o brasileiro, que frequenta os círculos de apoiadores do ex-presidente Donald Trump e compartilha foros com os espanhóis ultramontanos do Vox, franceses do Agrupamento Nacional de Marine Le Pen e italianos de La Liga.
Um dos pontos centrais da reunião da CAPC foi o de ir elaborando uma estratégia para “enfrentar o socialismo”, que seria, outra vez, uma “ameaça” para a América Latina.
Por socialismo ou comunismo os três “liberais” entendem qualquer projeto minimamente redistributivo que pressuponha uma “interferência” do Estado com o “livre andar do único motor genuíno da economia: o mercado”, segundo costuma dizer Milei, economista ligado às teses de Milton Friedman, de Friedrich von Hayek.
“É preciso entender que o socialismo não é um adversário honesto, mas sim que é o inimigo. Não compreender isso implica em tomar posições mornas que induzem a maiores doses de socialismo, até chegar numa ditadura própria da esquerda”, defendeu o argentino no Brasil.
Os três trocaram símbolos e posaram juntos para a foto da maneira costumeiramente usada por Jair Bolsonaro: como se empunhassem uma pistola em cada mão. E Kast lançou da tribuna o grito que caracteriza Milei em seus comícios: “Viva a liberdade, caralho!”
“Não se deve menosprezar essa gente, por mais que apareçam como fanfarrões ou como louquinhos”, disse recentemente o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Brasil e assessor de Direitos Humanos da Rel UITA, Jair Krischke.
“Ninguém dava nada por Trump, ninguém dava nada por Bolsonaro. E aí estão eles.”.